quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Evocação Grande Guerra 14-18


I GUERRA MUNDIAL: GUERRA DAS TRINCHEIRAS

A guerra das trincheiras foi um longo período, da 1ª Guerra Mundial, caracterizado por grande desgaste: elevada mortalidade, grande destruição e elevados gastos financeiros. Os oficiais franceses eram grandes adeptos desta táctica – guerra das trincheiras – e, no 1ª Guerra Mundial, enviaram soldados para o campo de batalha sem equipamento adaptado às trincheiras. Diziam que as precauções defensivas eram desnecessárias se se fizessem ataques maciços suficientemente rápidos. Porém, estas tácticas foram postas em causa depois dos exércitos terem sofrido pesadas baixas em ataques contra trincheiras defendidas por metralhadoras. As trincheiras eram protegidas pelo arame farpado e por postos de metralhadora.
Cavavam-se também trincheiras pela "terra de ninguém" dentro para ouvir o que se passava na posição inimiga ou para capturar soldados e depois interrogá-los.
As trincheiras tinham habitualmente 2,30 metros de profundidade e 2 metros de largura.
Nos parapeitos das trincheiras eram colocados sacos de areia (os "parados") para absorverem as balas e os estilhaços das bombas.
Numa trincheira com esta profundidade não se conseguia espreitar, por isso, havia uma espécie de elevação no interior.
As trincheiras não eram construídas em linha recta. Muitas eram perpendiculares de forma a que se o inimigo conseguisse tomar uma parte da trincheira, estava sujeito ao fogo das de apoio e das perpendiculares. 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A POLÍTICA


A Grande Guerra de 1914 foi uma consequência da remobilização contemporânea dos anciens regimes da Europa. Embora perdendo terreno para as forças do capitalismo industrial, as forças da antiga ordem ainda estavam suficientemente dispostas e poderosas para resistir e retardar o curso da história, se necessário recorrendo à violência. A Grande Guerra foi antes a expressão da decadência e queda da antiga ordem, lutando para prolongar sua vida, que do explosivo crescimento do capitalismo industrial, resolvido a impor a sua primazia. Por toda a Europa, a partir de 1917, as pressões de uma guerra prolongada afinal abalaram e romperam os alicerces da velha ordem entricheirada, que havia sido sua incubadora. Mesmo assim, à exceção da Rússia, onde se desmoronou o antigo regime mais obstinado e tradicional, após 1918 - 1919 as forças da permanência se recobraram o suficiente para agravar a crise geral da Europa, promover o fascismo e contribuir para retomada da guerra total em 1939.

 (MAYER, A. "A força da tradição: a persistência do Antigo Regime". São Paulo: Companhia das Letras, 1987. p. 13 - 14.)

OS DOIS LADOS DA GUERRA

"Em 1916, em meio à guerra, Marcel Duchamp (1887-1968) produzia a obra Roda de bicicleta. Nem a roda servia para andar, nem o banco servia para sentar. Algo aparentemente irracional, ilógico, diriam muitos (...). Mais do que uma outra forma de produzir arte, Duchamp estava propondo uma outra forma de ver a arte, de olhar para o mundo. (...) Depois de sua Roda de bicicleta, o mundo das artes não seria mais o mesmo. Depois da Primeira Guerra Mundial, o mundo não seria mais o mesmo."

 Flávio de Campos e Renan G. Miranda, "Primeira Guerra Mundial (1914-1918)".
Os camponeses partem para o front com incrível entusiasmo; e as classes superiores da sociedade, quer sejam liberais ou conservadoras, os aclamam, desejando-lhes boa sorte […] Habitualmente, os camponeses sentiam que não tinham nada a fazer a não ser beber; mas agora não é mais assim. É como se a guerra lhes desse uma razão para viver […] No ardor dos soldados russos se percebe o entusiasmo que agita o coração dos antigos mártires se lançando para a morte gloriosa.

 LE BON, Gustave. 1916 apud JANOTTI, Maria de Lourdes. A Primeira Guerra Mundial. O confronto de imperialismos. São Paulo: Atual, 1992. p.17.


Após um ano de massacre, o caráter imperialista da guerra cada vez mais se afirmou; essa é a prova de que suas causas encontram-se na política imperialista e colonial de todos os governos responsáveis pelo desencadeamento desta carnificina. […] Hoje, mais do que nunca, devemos nos opor a essas pretensões anexionistas e lutar pelo fim desta guerra […] que provocou misérias tão intensas entre os trabalhadores de todos os países.

 CONFERÊNCIA DE ZIMMERWALD - 5 a 8 de setembro de 1915. Apud JANOTTI, Maria de Lourdes. A Primeira Guerra Mundial. O confronto de imperialismos. São Paulo: Atual, 1992. [Adaptado].


A Primeira Guerra Mundial não resolveu nada. As esperanças que gerou - de um mundo pacífico e democrático de Estados-nação sob a liga das nações; de um retorno à economia mundial de 1913; mesmo (entre os que saudaram a revolução russa) de capitalismo mundial derrubado dentro de anos ou meses por um levante dos oprimidos - logo foram frustradas. O passado estava fora de alcance, o futuro fora adiado, o presente era amargo, a não ser por uns poucos anos passageiros em meados da década de 1920.

 ERIC J. HOBSBAWM. "A era dos extremos: o breve século XX (1914-1991)". São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

MOVIMENTO LUDISTA

"(...) agiam em grupos de cinquenta e desciam rápidos a uma aldeia após outra para destruir as máquinas de malhas, desaparecendo tão silenciosamente como tinham vindo (...)"

 (Henderson, W.O. - A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL)

CONSTITUIÇÃO DO BRASIL

Após a Independência política do Brasil, em 1822, era necessário organizar o novo Estado, fazendo leis e regulamentando a administração por meio de uma Constituição. Para tanto, reuniu-se em maio de 1823, uma Assembléia Constituinte composta por 90 deputados pertencentes à aristocracia rural.(...) Na abertura dos trabalhos, o Imperador D. Pedro I revelou sua posição autoritária, comprometendo-se a defender a futura Constituição desde que ela fosse digna do Brasil e dele próprio.

VICENTINO, C; DORIGO, G. "História Geral do Brasil." São Paulo: Scipione, 2001.

D. PEDRO

Como é para o bem do povo e felicidade geral da nação, estou pronto; diga ao povo que fico.

("D. Pedro, Príncipe Regente, 9 de janeiro de 1822".)
Fui à terra fazer compras com Glennie. Há muitas casas inglesas, tais como celeiros e armazéns não diferentes do que chamamos na Inglaterra de armazéns italianos, de secos e molhados, mas, em geral, os ingleses aqui vendem suas mercadorias em grosso a retalhistas nativos ou franceses. (...) As ruas estão, em geral, repletas de mercadorias inglesas. A cada porta as palavras Superfino de Londres saltam aos olhos: algodão estampado, panos largos, louça de barro, mas, acima de tudo, ferragens de Birmingham, podem-se obter um pouco mais caro do que em nossa terra nas lojas do Brasil.

Maria Graham. Diário de uma viagem ao Brasil. São Paulo, Edusp, 1990, p. 230 (publicado originalmente em 1824). Adaptado.

FUGA REAL PARA O BRASIL

"Não corram tanto ou pensarão que estamos fugindo!"

("REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL". Rio de Janeiro, ano 1, n. 1, jul. 2005, p. 24.) 

"Preferindo abandonar a Europa, D. João procedeu com exato conhecimento de si mesmo. Sabendo-se incapaz de heroísmo, escolheu a solução pacífica de encabeçar o êxodo e procurar no morno torpor dos trópicos a tranqüilidade ou o ócio para que nasceu".

(MONTEIRO, Tobias. "História do Império: a elaboração da Independência". Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1981. p. 55. [Adaptado].

É hoje! Rio de Janeiro. O príncipe regente dom João desembarca hoje no Rio com sua família e um enorme séquito de nobres, funcionários, aderentes e criados. Precisou que Napoleão botasse suas tropas nos calcanhares da Corte para que esta fizesse o que há cem anos lhe vinha sendo sugerido: transferir-se para o Brasil. Não se sabe o que, a médio prazo, isso representará para a metrópole. Mas, para a desde já ex-colônia, será supimpa. Porque, a partir de agora, ela será a metrópole. E, para estar à altura de suas novas funções, terá de passar por uma reforma em regra - não apenas cosmética, para receber o corpo diplomático, o comércio internacional e os grã-finos de toda parte. Mas, principalmente, estrutural. Afinal, é um completo arcabouço administrativo que se está mudando. Para cá virão os ministérios, as secretarias, as intendências, as representações e a burocracia em geral. Papéis sem conta serão despachados entre esses serviços, o que exigirá uma superfrota de estafetas [mensageiros]. A produção de lacre para documentos terá de decuplicar. O Brasil importará papel, tinta e mata-borrões em quantidade, mas as penas talvez possam ser fabricadas aqui, colhidas dos traseiros das aves locais. Estima-se que, do Reino, chegarão 15 mil pessoas nos próximos meses. Será um tremendo impacto numa cidade de 60 mil habitantes. Provocará mudanças na moradia, na alimentação, nos transportes, no vestuário, nas finanças, na medicina, no ensino, na língua. Com a criação da Imprensa Régia, virão os jornais. O regente mandará trazer sua biblioteca. Da escrita e da leitura, brotarão as ideias. Até hoje, na história do mundo, nunca a sede de um império colonial se transferiu para sua própria colônia. É um feito inédito - digno de Portugal. E que pode não se repetir nunca mais.

(Ruy Castro. "Folha de S. Paulo", 08/03/2008)


"Na manhã de 29 de novembro de 1807, circulou a informação de que a Rainha, o Príncipe Regente e toda a Corte estava fugindo para o Brasil, sob a proteção da Marinha Britânica. Nunca algo semelhante tinha acontecido na história de qualquer país europeu, rei nenhum havia ido tão longe a ponto de cruzar um oceano para viver e reinar do outro lado do mundo."

(Revista "Super Interessante", Outubro de 2007)

Concebida, desde o século XVII, como solução de emergência em situações de crise, a mudança da Corte para a América voltou a ser considerada pelo anglófilo Rodrigo de Souza Coutinho às vésperas de sua demissão da pasta de secretário da Marinha e Ultramar, em 1803, mas somente entrou na pauta governamental do dia quando sucessivas ameaças da França evidenciaram, a partir de 1807, a iminência da invasão de Portugal pelas tropas napoleónicas. Convencido de que a integridade da monarquia somente seria assegurada por meio da preservação dos domínios americanos, cujos recursos naturais e humanos superavam os do reino, D. João e a Corte partiram de Lisboa em 29 de novembro de 1807, compondo uma comitiva de 15 mil pessoas, incluindo apenas uma pequena parte da alta nobreza lusitana.

 VAINFAS, Ronaldo, (org.) Fuga da Corte. Dicionário do Brasil colonial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. p. 557.
[Em 1849], a introdução de africanos no Brasil fora de 54 000 indivíduos; já [em 1850] desce para menos de metade: 23 000, caindo em seguida (1851) para pouco mais de 3 000. Em 1852 ainda entram no país 700 e poucos escravos (...). Dois pequenos desembarques clandestinos efetuados em 1855 e 1856, respectivamente em Serinhaém (Pernambuco) e São Mateus (Espírito Santo), foram logo surpreendidos, a carga confiscada e os infratores punidos.

(Caio Prado Júnior, História económica do Brasil)

Os efeitos da suspensão do tráfico começaram logo a se fazer sentir. Cessara bruscamente, e ainda no momento sem nenhum substituto equivalente, a mais forte corrente de povoamento do país representada anualmente por algumas dezenas de milhares de indivíduos. A lavoura ressentirá da falta de braços, e o problema se agrava de ano para ano. Estava-se com a progressão da cultura do café num período de franca expansão das forças produtivas, e o simples crescimento vegetativo da população trabalhadora não podia atender às necessidades crescentes.

(Caio Prado Júnior, História económica do Brasil)
António Vieira, em 1633, (...) então um jovem de 26 anos, desenvolveu a ideia de serem os africanos e negros, por ele chamados de “etíopes”, os eleitos de Deus e feitos à semelhança de Cristo para salvar a humanidade através do sacrifício. No engenho, pregava Vieira aos escravos, “sois imitadores de Cristo crucificado [...], porque padecíeis de um modo muito semelhante o que o mesmo senhor padeceu na sua cruz, e em toda a sua paixão.” (...) Recomendação de paciência com a promessa da salvação gloriosa devida por Deus aos mártires, eis o que pregava Vieira aos negros.

(Ronaldo Vainfas, Deus contra Palmares – Representações senhoriais e ideias jesuíticas. In: João José Reis e Flávio dos Santos Gomes, Liberdade por um fio: história dos quilombos no Brasil)
A família patriarcal foi a base do sistema (...). Na sociedade assim estabelecida, predominavam a empatia entre as raças e a amenidade na relação senhor-escravo, características que explicariam a miscigenação e seriam peculiares no quadro geral do escravismo americano. (...). Uma linha de raciocínio que o levará a considerar o Brasil uma “democracia racial”, pois a miscigenação largamente praticada corrigia a enorme distância social existente.

 (Suely R. R. de Queiróz. Escravidão negra em debate. In: Marcos C. de Freitas (org.). Historiografia brasileira em perspectiva)

Como a lei consagrava a exploração de um grupo pelo outro, “as duas camadas raciais permaneciam, a despeito de toda sorte de contatos, intercomunicações e intimidades, dois mundos cultural e socialmente separados, antagônicos e irredutíveis um ao outro”. Esses pontos de vista são reforçados por Jacob Gorender em O escravismo colonial, obra de elaborada pesquisa e reflexão, na qual o autor afasta-se das interpretações que têm como categoria central explicativa a atividade exportadora e propõe o “historicamente novo” modo de produção escravista colonial, para explicar o início da formação social brasileira.

(Suely R. R. de Queiróz. Escravidão negra em debate. In: Marcos C. de Freitas (org.). Historiografia brasileira em perspectiva)


Jean Baptiste Debret - Negros ao tronco



(Miguel Paiva e Lilia M. Schwarcz. Da colônia ao império, um Brasil para inglês ver...)


Mais do que libertar o Brasil, escravos (...) entraram na guerra para conquistar sua alforria. (...) Os escravos foram recrutados para lutar a favor da Independência. Mas esses soldados buscavam mais do que livrar o Brasil do domínio de Portugal. Empunharam armas na esperança de usar seus serviços de guerra como moeda de troca para obterem a alforria. (...) Os senhores temiam que seus escravos aproveitassem a ocasião para lutar por liberdade ou por novos direitos. Em novembro, depois da batalha de Pirajá, Labatut mandou recrutar “pardos e pretos forros” para criar um batalhão de libertos.

(Hendrik Kraay. Independência é liberdade.)


Na sua luta contra a escravidão e seus males, o abolicionismo procura empenhadamente fazer valer seus ideais. Mas a prudência obriga os partidários da abolição a movimentarem-se inicialmente no estreito espaço legal que lhe é reservado. Tudo deve ser feito sempre dentro da lei – é a palavra de ordem –, mas todos os espaços legais devem ser ocupados! (...) A recalcitrância dos escravocratas, no entanto, exaspera os lutadores. Aproveitando o aguçamento das contradições internas que apressam a desagregação do sistema servil, buscam o espaço oculto, a luta subterrânea, que os leva a ultrapassarem os limites legais.

(Suely R. Reis Queiroz, A abolição da escravidão)
Observadores jesuítas estimaram em 300 mil o número de índios capturados apenas nas missões do Paraguai. (...) muitos foram vendidos como escravos em São Vicente e principalmente no Rio de Janeiro, onde a produção de açúcar desenvolveu-se ao longo do século XVII. (...) Devemos também levar em conta a conjuntura de escassez de suprimento de escravos africanos, entre 1625 e 1650 (...). Não é uma simples coincidência que naqueles anos tenha ocorrido uma ativação das bandeiras.

 (Boris Fausto. História do Brasil)

ABOLICIONISMO

“as nações como os homens devem prezar a sua reputação” e acrescenta: “... mas, a respeito do Tráfico, a verdade é que não salvamos um fio sequer da nossa. O crime nacional não podia ter sido mais escandaloso, e a reparação não começou ainda. No processo do Brasil um milhão de testemunhas hão de levantar-se contra nós, dos sertões da África, do fundo do oceano, dos barracões da praia, dos cemitérios das fazendas, e esse depoimento mudo há de ser mil vezes mais valioso para a história do que todos os protestos de generosidade e nobreza d’alma da Nação inteira.”

(NABUCO, Joaquim. O Abolicionismo. Petrópolis: Vozes, 1977. p. 120.)

JULGAMENTO DE LUÍS XVI

“Cidadãos, por que fatalidade a questão que deveria facilmente reunir todos os sufrágios e todos os interesses dos representantes do povo parece ser somente o sinal de discórdias e de tempestades? Por que os fundadores da República estão divididos sobre a punição do tirano? Não estou menos convencido de que estamos todos tomados de um igual horror pelo despotismo, inflamados do mesmo zelo pela causa da santa igualdade, e concluo que devemos nos reunir comodamente nos princípios do interesse público e da eterna justiça. (...) Cidadãos, é do interesse supremo do bem-estar público que os lembro disso. Que motivo os força a se ocuparem de Luis? Não é do desejo de uma vingança indigna da nação; é a necessidade de cimentar a liberdade e a tranquilidade pública na punição do tirano.”

(GUMBRECHT, Hans Ulrich. As funções da retórica parlamentar na Revolução Francesa. Estudos preliminares para uma pragmática histórica do texto. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. p. 153/4.)

MÚSICOS NA CORTE

"O que chamamos de corte principesca era, essencialmente, o palácio do príncipe. Os músicos eram tão indispensáveis nesses grandes palácios quanto os pasteleiros, os cozinheiros e os criados. Eles eram o que se chamava, um tanto pejorativamente, de criados de libré. A maior parte dos músicos ficava satisfeita quando tinha garantida a subsistência, como acontecia com as outras pessoas de classe média na corte; entre os que não se satisfaziam, estava o pai de Mozart. Mas ele também se curvou às circunstâncias a que não podia escapar."

 (Norbert Elias. Mozart: sociologia de um gênio. Ed. Jorge Zahar, 1995, p. 18 (com adaptações)).

ABSOLUTISMO SEGUNDO BODIN

“O rei sábio deve governar harmonicamente o seu reino, entremeando suavemente os nobres e os plebeus, os ricos e os pobres, com tal discrição, no entanto, que os nobres tenham alguma vantagem sobre os plebeus, pois é bem razoável que o gentil homem, tão excelente nas armas e nas leis quanto o plebeu, seja preferido nos estados (empregos) da judicatura ou da guerra; e que rico em igualdade das demais condições seja preferido ao pobre nos estados que têm mais honra que lucro; e que ao pobre caibam os ofícios que dão mais lucros do que honra; assim todos ficaram contentes (....). Nada havendo de maior sobre a Terra, depois de Deus, que os príncipes soberanos, e sendo por Ele estabelecidos como seus representantes para governarem os outros homens é necessário lembrar-se de sua qualidade, a fim de respeitar-lhes e reverenciar-lhes a majestade com toda obediência, a fim de sentir e falar deles com toda honra, pois quem despreza seu príncipe soberano despreza a Deus, de quem ele é a imagem na terra.”

BODIN, Jean. Seis Livros sobre a República.

COLBERTISMO

"Desejando tratar favoravelmente o senhor Van Robais e servir-me dele como exemplo para atrair os estrangeiros que primam em qualquer espécie de manufatura, a fim de que venham estabelecer-se em nosso Reino, pedimos ao Prefeito e aos Magistrados que lhe forneçam alojamentos convenientes para a instalação dos teares... Queremos que ele [Van Robais] e os trabalhadores estrangeiros sejam considerados súditos do Rei e naturalizados... Ele será ainda isento de impostos, da corvéia e de outros encargos públicos durante a vigência da presente concessão... Permitimos a esse empresário e aos operários que continuem a professar a religião reformada... Proibimos a outras pessoas imitar ou falsificar a marca dos ditos tecidos, pelo prazo de vinte anos, bem como que se estabeleçam na cidade de Abbeville e a dez léguas de seus arredores oficinas de tecelagem semelhantes...".

(Luís XIV, ao autorizar o estabelecimento de manufatura em Abbeville, no ano de 1651).

ANTIGO REGIME

"Tudo na França no século XVII é angústia: a de Pascal, siderado pelo silêncio dos espaços infinitos, a de Racine, situando o homem entre um universo mudo e um Deus oculto, e o riso de Moliere, que fez toda França compreender a farsa que lhe impunha o absolutismo, ao fazê-lo crer que vivia uns novos tempos, quando na verdade, não se libertara da herança feudal."

MERCANTILISMO

Não há a menor dúvida de que as guerras cada vez mais dispendiosas contribuíram para o desenvolvimento do mercantilismo. Com a ampliação da artilharia, dos arsenais, das marinhas de guerra, dos exércitos permanentes e das fortificações, as despesas dos Estados modernos dão um salto. Guerras pressupõem dinheiro e mais dinheiro, e assim a posse de dinheiro, a acumulação de metais nobres, torna-se uma mania e domina, como última conclusão de toda sabedoria, o pensamento e o juízo.

 (F. Braudel, citado em R. Kurz, "O colapso da modernização".)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Teoria do Direito Divino dos Reis

"...Já o disse, sois deuses, isto é, tendes em vossa autoridade, trazeis em vossa fronte, um caráter divino... Entretanto, ó deuses de carne e sangue, ó deuses de lodo e pó, morreis como homens... A grandeza separa os homens por breve tempo; uma queda comum, no fim, a todos iguala...".

" A Política Segundo a Sagrada Escritura", de Jacques Bossuet.

DIREITO DIVINO DOS REIS

"...o príncipe, que trabalha para o seu Estado, trabalha para os seus filhos, e o amor que tem pelo seu reino, confundindo com o que tem pela sua família, torna-se-lhe natural... O rei vê de mais longe e de mais alto; deve acreditar-se que ele vê melhor..."

(Jacques de Bossuet.A Política Segundo a Sagrada Escritura. Livro II, 10 proposição e Livro VI, artigo 1.o)
"É praticamente impossível treinar todos os súditos de um [Estado] nas artes da guerra e ao mesmo tempo mantê-los obedientes às leis e aos magistrados."

(Jean Bodin, teórico do absolutismo, em 1578).

TEORIA DO DIREITO DIVINO DOS REIS

O grande teórico do absolutismo monárquico, o bispo Jacques Bossuet, afirmou: "Todo poder vem de Deus. Os governantes, pois, agem como ministros de Deus e seus representantes na terra. Resulta de tudo isso que a pessoa do rei é sagrada e que atacá-lo é sacrilégio. O poder real é absoluto. O príncipe não precisa dar contas de seus atos a ninguém."

(Citado em "Coletânea de Documentos Históricos para o 1° grau." São Paulo, SE/CENP, 1978, p. 79.).

MONARQUIAS

"A superioridade das Monarquias sobre os senhores feudais acentuou-se: os castelos feudais deixaram de ser invulneráveis com o desenvolvimento da artilharia; a criação de exércitos profissionais, convertidos em poderosos sustentáculos das monarquias, libertaram-nas da até então imprescindível ajuda da nobreza feudal, cuja principal instituição militar - a cavalaria - tornou-se inútil diante da infantaria com arcabuzes e mosquetes."

(AQUINO, Rubim Leão et alli. HISTÓRIA DAS SOCIEDADES. DAS SOCIEDADES MODERNAS ÀS SOCIEDADES ATUAIS. 2 ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1983. p. 24.)

DIREITO DIVINO DOS REIS

"...Já o disse, sois deuses, isto é, tendes em vossa autoridade, trazeis em vossa fronte, um caráter divino... Entretanto, ó deuses de carne e sangue, ó deuses de lodo e pó, morreis como homens... A grandeza separa os homens por breve tempo; uma queda comum, no fim, a todos iguala...".

 " A Política Segundo a Sagrada Escritura", de Jacques Bossuet.

LUÍS XIV: REI SOL

 Rei francês Luís XIV
“O estado sou eu.”

Esta frase do rei francês Luís XIV indica a organização do Estado Moderno, sob a forma do Absolutismo. Dê duas características deste Estado e explique-as.
 Resposta: O rei tem poderes absolutos e incontestáveis. Dessa forma, uma das características do regime absolutista é a ausência da divisão dos poderes.
O poder absoluto do rei era justificado pela “Teoria do Direito Divino”. O rei recebeu o seu poder de Deus e só a ele deve prestar conta dos seus atos.

O Príncipe

O príncipe não precisa ser piedoso, fiel, humano, íntegro e religioso, bastando que aparente possuir tais qualidades (...). O príncipe não deve se desviar do bem, mas deve estar sempre pronto a fazer o mal, se necessário.

(Nicolau Maquiavel (1469-1527). O Príncipe. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1986.)

"Daqui nasce um dilema: é melhor ser amado do que temido, ou o inverso? Respondo que seria preferível ambas as coisas, mas, como é muito difícil conciliá-las, parece-me muito mais seguro ser temido do que amado, se só se puder ser uma delas. [...] Os homens hesitam menos em prejudicar um homem que se torna amado do que outro que se torna temido, pois o amor mantém-se por um laço de obrigações que, em virtude de os homens serem maus, quebra-se quando surge ocasião de melhor proveito. Mas o medo mantém-se por um temor do castigo que nunca nos abandona. Contudo, o príncipe deve-se fazer temer de tal modo que, se não conseguir a amizade, possa pelo menos fugir à inimizade, visto haver a possibilidade de ser temido e não ser odiado, ao mesmo tempo."

MAQUIAVEL, Nicolau (1469-1527). "O Príncipe". Lisboa: Europa-América, 1976.

Leviatã.

O fim último, causa final e desígnio dos homens (que amam naturalmente a liberdade e o domínio sobre os outros), ao introduzir aquela restrição sobre si mesmos sob a qual os vemos viver nos Estados, é o cuidado com sua própria conservação e com uma vida mais satisfeita. Quer dizer, o desejo de sair daquela mísera condição de guerra que é a conseqüência necessária (conforme se mostrou) das paixões naturais dos homens, quando não há um poder visível capaz de os manter em respeito, forçando-os, por medo do castigo, ao cumprimento de seus pactos e ao respeito àquelas leis de natureza.

(Thomas Hobbes (1588-1679). Leviatã. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979.)


Manuais e códigos de comportamento: 1672

Se todos estão se servindo do mesmo prato, evite pôr nele a mão antes que o tenham feito as pessoas de mais alta categoria, e trate de tirar o alimento apenas da parte do prato que está à sua frente. Ainda menos deve pegar as melhores porções, mesmo que aconteça você ser o último a se servir. Cabe observar ainda que você sempre deve limpar a colher quando, depois de usá-la, quiser tirar alguma coisa de outro prato,havendo pessoas tão delicadas que não querem tomar a sopa na qual mergulhou a colher depois de a ter levado à boca.

(COURTIN, Antoine de, p. 102. Grifos do autor original.)

ABSOLUTISMO

“O rei sábio deve governar harmonicamente o seu reino, entremeando suavemente os nobres e os plebeus, os ricos e os pobres, com tal discrição, no entanto, que os nobres tenham alguma vantagem sobre os plebeus, pois é bem razoável que o gentil homem, tão excelente nas armas e nas leis quanto o plebeu, seja preferido nos estados (empregos) da judicatura ou da guerra; e que rico em igualdade das demais condições seja preferido ao pobre nos estados que têm mais honra que lucro; e que ao pobre caibam os ofícios que dão mais lucros do que honra; assim todos ficaram contentes (....). Nada havendo de maior sobre a Terra, depois de Deus, que os príncipes soberanos, e sendo por Ele estabelecidos como seus representantes para governarem os outros homens é necessário lembrar-se de sua qualidade, a fim de respeitar-lhes e reverenciar-lhes a majestade com toda obediência, a fim de sentir e falar deles com toda honra, pois quem despreza seu príncipe soberano despreza a Deus, de quem ele é a imagem na terra.”

 BODIN, Jean. Seis Livros sobre a República.

O PODER DE LUÍS XV

" É somente na minha pessoa que reside o poder soberano (...), é somente de mim que os meus tribunais recebem a sua existência e a sua autoridade; a plenitude desta autoridade, que eles não exercem senão em meu nome, permanece sempre em mim, e o seu uso nunca pode ser contra mim voltado; é unicamente a mim que pertence o poder legislativo, sem dependência e sem partilha; é somente por minha autoridade que os funcionários dos meus tribunais procedem, não à formação, mas ao registo, à publicação, à execução da lei, e que lhes é permitido advertir-me, o que é do dever de todos os úteis conselheiros; toda a ordem publica emana de mim e os direitos e interesses na Nação, de que se pretende ousar fazer um corpo separado do monarca, estão necessariamente unidos com os meus e repousam inteiramente nas minhas mãos."

 Resposta do rei francês Luis XV às criticas do Parlamento de Paris, na sua sessão de 3 de Março de 1766

O documento acima apresentado é uma confirmação pura e simples do poder absoluto que se vivia no Antigo Regime. Neste, o monarca francês reforça o seu poder perante o Parlamento, minimizando-o perante a sua figura absoluta que tudo decidia, que tudo controlava. A principal característica deste poder absoluto remete-se à centralização de todos os poderes do Estado nas mãos do monarca.
Quatro características essenciais. Primeiro era absoluto, sendo o monarca o chefe supremo e só este tem o direito de decidir sobre o Estado. Em segunda estância o poder absoluto é sagrado, sendo o sue poder, como referido anteriormente, de origem divina e não podendo assim existir quaisquer atentados contra a sua figura. Em terceiro lugar, o poder é paternal, isto é, o monarca é o pai do povo, deve proteger os oprimidos, zelar pelos interesses dos mesmo e governar com dignidade. Em ultimo lugar, o poder do rei é racional, sendo que Bossuet afirmava que a sabedoria salvava mais Estados do que a força. Estas eram as principais características do poder absoluto.